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Sobre Memória e Patrimônio Histórico

 

Por Laura Sánchez

La memoria es un escribano que vive dentro del hombre.

Juan de Aranda, 1613

O discurso sobre memória é muito antigo, amplo e tem profundas raízes filosóficas. Hoje se torna uma importante discussão nos âmbitos acadêmicos e pode ser abordado do ponto de vista da História, da Sociologia, da Filosofia e até da Antropologia, entre outros campos. Aristóteles já falava dos que controlam a imaginação mediante a vontade e “fabricam imagens com as quais preenchem os lugares mnemônicos”. Cícero, Quintiliano, Alberto Magno e Tomás de Aquino elaboraram regras em torno da “Arte da memória”, algumas recuperadas, estudadas, ampliadas e modificadas pelos intelectuais modernos.

A memória nos remete à capacidade de recuperar algo que se possuía antes e que foi esquecido. Ao mesmo tempo, os termos Passado, Memória e Esquecimento estão intimamente relacionados e também nos lembram de patrimônios históricos/culturais. Desta forma, a preservação do patrimônio histórico e cultural torna-se necessária para compreender conceitos relativos ao uso e relevância dos espaços como lugares de memória, expressão utilizada por Pierre Nora para descrever certos espaços e certas temporalidades que acabam por ser sacralizados em determinados grupos nas sociedades urbanas.

David Hume apontava que a memória não tem a ver somente com passado, mas também com a identidade e, assim com a própria persistência de futuro. Pelo que se infere, a preservação de patrimônios culturais é uma forma de saber de onde viemos e para onde vamos. Quando o passado é esquecido entra em vigor o apagamento das memórias. O papel da conservação especializada dos patrimônios históricos nos garante a preservação da história. Por exemplo, já imaginou Roma sem o Coliseu, Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor ou Paris sem o Palácio de Versalhes?

 

Coliseu de Roma/Foto Denise Paro

Mas ainda há ignorância e descaso quanto à importância da preservação destes documentos, sítios e monumentos que são as memórias vivas da nossa História. Por outro lado, os museus, bibliotecas e arquivos, paraíso dos historiadores, têm como missão cuidar e proteger destes patrimônios históricos a fim de manter em constante movimento as memórias. Mas isso nem sempre acontece.

A mesma História nos lembra de alguns dos mais cruéis apagamentos de memórias, por meio de destruição de livros e monumentos como foi a própria inquisição.

"Primeiro foram queimados os livros e depois eliminados das bibliotecas, na tentativa de apagá-los da história. Primeiro foram eliminados inúmeros seres humanos, depois tentaram apagar os apagamentos, negar os fatos, obstaculizar a reconstrução dos eventos, vetar a contagem das vitimas, impedir a lembrança", (Rossi, 2010).

O patrimônio histórico expressa a identidade histórica e as vivências de um povo, assim como contribui para manter e preservar as identidades. É a herança cultural do passado, vivida no presente e que será transmitida às gerações futuras. Sendo assim, se continuamos a destruir patrimônios históricos ou simplesmente não conservar os que já temos, poderíamos chegar à eliminação da História?